sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

OCA, VAZIA, SEM RECORDAÇÕES!!!

Neuzamaria Kerner,
na décima sexta leva
da Diversos' afins.

Me descobri neste texto,
durante dez anos, construi uma família,
filhos, casa, viagens,
num domingo de páscoa tudo desmoronou,
resolvi, numa atitude alucinada,
vender tudo, me desfiz da casa;
depois, os móveis coloquei
em cada um todas as minhas recordações,
coloquei em cada umtodos os projetos e
sonhos que me sustentaram em pé durante anos
e me desfiz de tudo isso.
Resolvi me libertar da cidade também.
Numa noite, escura e fria
Parti para São Paulo
Levei comigo, algumas panelas,
Dois colchões, alguns livros
Eo filho que quiz me acompanhar
Os outros resolveram ficar
Com o pai, o passado
E as lembranças...
Ralei, sofri, chorei

Agora lendo aqui
Sei porque.
Eu me tornei oca por dentro
Vazia sem recordações
Sem lembranças
Sem passado.
Morri...
Mas, minha sorte

E que não abandonei minha profissão
Sou professora, educadora
E tenho a poesia, minha
Companheira.
Foram essas duas
Que me ajudaram a renascer!
Deixar de ser vazia
Abandonar a morte
No meio do caminho
E continuar vivendo.

Carrego em minha história
Esse enorme vazio, que construí
às vezes consigo senti-lo
apenas como uma fresta,um vão.
Más sei que ele está bem do meu lado.

Agradeço ao Fabrício Brandão
Por me ajudar a me conhecer melhor
Sem ao menos me conhecer...

Um comentário:

Fabrício Brandão disse...

Querida,

Emocionei-me com os seus versos lá na comunidade. Antes disso, já havia me deparado com a força de sua pessoalidade lá na DIVERSOS AFINS. Então, fiquei refletindo sobre tudo. Cada imagem de uma linha sua me trazia a representação possível de um mundo que pretendia explodir, extravasar aquilo que pulsava bem por dentro.

O texto de Neuzamaria reacende em nós aquela chama que, ao contrário do que se possa pensar, não é de lamentação, mas sim de capacidade de superação.

É por estas e outras que não passamos isentos naquilo que escrevemos, pois, em cada linha expelida, segue a verdade escondida em alguém. Para mim, escrita é libertação, redenção mesmo. Ela cumpre seu papel quando se desprende, desengaveta-se para depois partir rumo ao coração alheio.

Obrigado, de coração, por dividir conosco esse relato sincero de vida! Caminhe sempre ao nosso lado.

Beijos e muita Luz sempre!